domingo, 19 de setembro de 2010

A questão da cultura e do desenvolvimento.

Certa vez na juventude lemos uma colocação da UNESCO em que ela explicitava o dilema que é lidar com a noção de cultura junto da noção de desenvolvimento.

Na época não entendi a dimensão do problema...

Mas é o seguinte: como assegurar a manutenção da herança cultural de povos, comunidades, grupos e ao mesmo tempo subsidiar o desenvolvimento deles...?

Acabei de ver na TV Escola um documentarista filmando um costume tribal africano, uma disputa mais ou menos violenta entre homens para impressionar futuras mulheres. E o documentarista afirmava: pena que este costume está acabando com a ocidentalização da tribo...

Havia um certo pesar na declaração do observador.

Ora, o ruim não é que tal ou tal costume desapareça de tal ou tal localidade do mundo. Na minha opinião. O ruim é que esse desaparecimento venha a causar sofrimento a uma geração de pessoas que se sintam deslocadas e sem identidade.

Não é o costume em si que importa. São as pessoas que importa. Se a descontinuidade cultural gerar sofrimento ou vulnerabilidade a um grupo deve-se tentar conservar o padrão cultural antigo. Alguns índios estão comentendo suicídio no Brasil... A explicação passa por questões econômicas de subsistência mas passa também pela questão da quebra da identidade cultural. Numa tribo onde se identifique esse sofrimento todo esforço deve ser feito para que as pessoas de lá se voltem para seu passado para se afirmarem.

Mas num lugar onde se dilarera os órgaos digitais da mulher, onde se imputa pena de morte por certas circunstâncias de vida, onde se força o casamento de crianças com adultos, etc. Aí devemos, na nossa opinião, fazer esforços por sublimar sim tais padrões culturais. Sem, é claro, com a violência eurocentrista de antes, mas com amor e ciência e tecnologia e inovação.

Vemos várias vezes  grupos indígenas, por exemplo, numa situação meio inautêntica, involuntariamente da parte deles, quando celebram um tal costume antigo mas o fazem de short os homens e cobrindo-se as mulheres parcialmente com roupas ocidentais. Não critico, lembro este caso para evidenciar como é complexa a questão. Pois, a rigor, se é para resgatar um certo padrão cultural de ontem num dado lugar com certas pessoas isso deveria ser vivenciado integralmente. Na medida em que se "tolera", se flexibiliza, se adapta, se entra num processo de mútua concessão, já esta-se afirmando a relatividade de tal padrão.

Essa questão vai além da discussão intelectual, as contingências da realidade vão pouco a pouco encaminhando grupos que tem referência forte no passado a se adptarem culturalmente. Exemplo: certa vez assisti a um programa educativo em que um grupo de índios estava indignado na fila do atendimento público de saúde perto de seu vilarejo. Não era nenhuma queixa contra a inépcia do sistema local de saúde. eles estavam revoltados pois na tribo eles, os homens, são os primeiros a serem atendidos em tudo, as mulheres depois. Na fila, não aceitavam que a lógica era outra, a de chegada ao local, a dos casos especiais de gravidez, amamentação e velhice. Que fazer nesse caso? Adaptar o SUS em sua face local à tribalização cultural exigida ou os índios se adaptarem ao padrão cultural existente e que não causa sofrimento real e coletivo à tribo?

Manter os padrões que querem ser mantidos por aqueles que são detentores e originais vivenciadores de um tal padrão cultural,. mas não fazer apologia ao passado e uma busca frenética por acorrentar ao passado um agrupamento humano qualquer.

O multiculturalismo que defendemos aceita a existência do outro, compreende a diferença, celebra a diversidade, mas, busca sempre tornar a vida mais bela, mais qualitativa, menos dolorosa, menos injusta.

Ma saí um filósofo qualquer me perguntará: qual beleza? qual qualidade de vida? qual?

Deixemos o aprofundamento disso para outra postagem.

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